30.1.09

Se dependesse de mim




Matizava cada traço do teu rosto com manchas enternecidas de paixão. Alcançava a figura de sombras que se abandona no meu peito e escrevia em cada pálpebra todas as palavras que devem ser ouvidas. E retidas. Recordava-te que a ânsia com que me recolhes de mim e te recolhes de ti não é ilusão de luz, cor ou pétalas de flor-de-lis, num qualquer espaço habitado por Morfeu e solidão atípica. Se dependesse de mim os relógios não teriam ponteiros ou dígitos em sintonia com a hora do outro lado da fronteira. Não existiriam reflexões, antecipações, considerações. Se dependesse de mim ainda tornar-se-ia agora, a hesitação criaria mundos, o suspiro seria um gemido sereno que ressalta nas têmporas até se enrolar na minha língua com destino a governos ocultos e sufocados. O condicional da existência que me tira o sono é um pequeno caminho para o trato que as tuas mãos consagram, ao despir-me e arrancar-me de percursos escutados que já não chegam até mim.
Se dependesse de mim não estaria aqui.

[Henri Cartier-Bresson + Mazzy Star]

18.1.09

17 de Janeiro

Nasceu o Tomás.
É o meu sexto sobrinho.
É um pequeno Buda.
É tão bonito.


15.1.09

renúncia à análise





ir vivendo
.
sabe bem

8.1.09

Se vamos a tempo de saltar

Le verbe aimer est difficile à conjuguer :
son passé n'est pas simple,
son présent n'est qu'indicatif
et son futur est toujours conditionnel.
Jean Cocteau

4.1.09

pessoa, blonde redhead e cesariny



XIX

muito acima das nuvens seja o centro
das nossas misteriosas poéticas
o irresistível anseio de viajar
um só movimento trabalhado à mão
nos ermos mais altos
mais desaparecidos

(estado segundo, in Pena Capital, Mário Cesariny)

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