7.4.09

até


Inundar-me de ti até te expirar em pedaços. 
Mordo o lábio, desfaço-te, enterro-te em pequenos alvéolos presos, amarrados, cosidos com suturas de sangue enlameado, tóxico, impregnado de venenos vacilantes, à minha pele de sonos defuntos e hesitantes.
O amor não tem espécie, não espera. Desespera e assoberba no cordel de tecidos e vapores, brandos e nada lentos, que susténs no peito, habitado por espectros que procuram aquela quimera de te amar mais ao mais pequeno segundo.
Inundar-me de ti até te expirar em pedaços.
Depois deter-me, ter-te, em suspenso, entre as pontas dos dedos, de luto carnal, cobrir-te, acusar-me na tua boca, desmontar cada fragmento de ti e, a teus olhos, morrer-te, conter-me, foder-te.

(malerie marder + the deer tracks) 

2 comentários:

aframboesa disse...

Também tu, enquanto os outros ocuparem a tua vida
com o seu passado a renovar-se numa ânsia de tortura,
também tu ia agora escrever, como poderás viver por ti
se a colecção de boas intenções que mostras aos outros
parece um almanaque ultrapassado
e o respeito que possas cobrar pela obra afectiva
será sempre uma moeda antiga fora de circulação?

Estava para escrever como pode uma mulher amar alguém
se dentro dela não sente o que os outros sentem por ela,
tudo numa compilação de trelas e coleiras elegantes
como as palavras desse tratador de mulheres domésticas
a pastar as suas tristezas nos seus domínios de cultura perversa.


[...]

Fernando Esteves Pinto

Anônimo disse...

Ena...brutal! =)

Bijuuu***

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