10.3.08

Alice, és turva

"Compor do amor esgota as palavras, sempre os mesmos medos anfíbios, as mesmas recusas de côdea crua. O rosto dividido em vários semblantes, a mesma dor aguda picada sobre as úlceras. De lua contrafeita no vaivém de nuvens pardacentas, o berço da noite assenta sobre o orvalho como uma maquinaria de sonhos. Boa noite meu amor, encontro-te difusa na minha boca como uma úvula de campânula. Boa noite meu amor, ainda há um lugar incerto entre a aura do teu alento e os meus braços. Escrever pelo amor estanca nas palavras. O gelo da sanha, a mágoa segregada na bainha das feridas. Sobra o corpo encaixotado nas talas de madeira, a saudade mastigada sobre o pus da gangrena. De lua inerte no desvão negro das trevas, o cerrar da noite transparece no céu a quilómetros de distância. Boa noite meu amor, demoras-te no embargo calado da ternura, permanecem as flores lodosas do teu Inverno. Boa noite meu amor, que o amor não me permite desejar-to de coração livre. Boa noite meu amor.

Dizer-te o quanto desfaleço na tua ausência seria sentenciar-nos à
incoerência deste mesmo amor."
(in Férreos Transversais, Alice Turvo)

Alice nasceu num sábado de sol. Alice é Turvo, é Férreos Transversais, é palavras escutadas, é um hino ao amor. Mas para mim é mais que isso.

No entanto, estas palavras dela são hoje para ti.

Um comentário:

Anônimo disse...

há sempre alguém que compreende as palavras 'alheias'. és bonita amanda.
um beijinho, não tão turvo.

inserir corações.

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