17.7.07

9.7.07

13º Superbock Superock - O Rescaldo (em poucas palavras)

Surpresas

The Magic Numbers
Como eu gostei de ouvi-los! Não os conhecia, embora andasse curiosa
há uns tempos. Adorei. São óptimos em palco e a música tem
uma melodia que faz sorrir, naturalmente. Embalaram
e adoçaram a noite. Foi dos melhores concertos do festival.
E, automaticamente, dispararam para a minha playlist.
O álbum Those The Brokes é das coisas mais bonitas que
ouvi ultimamente. A sensação que tive à saída do concerto foi
a mesma de quando saí do grande espectáculo que os Arcade Fire
deram em Paredes de Coura. Acho q
ue isso diz tudo.
A ouvir, ali ao lado ->



Arcade Fire
Depois de os ter visto em Paredes, aguardava este concerto com expectativas
muito altas. Eles conseguiram satisfazê-las. Agora já não são eles os seus
próprios roadies e já têm um palco com artifícios bonitos como pequenos
écrans redondos e uma fachada solene de um órgão de Igreja.
Tudo neles transpira música. Uma música que é vista como solene,
como um bem maior, como algo mágico.
Foi pena o concerto ter começado com 15 minutos de atraso e ter
terminado a horas. Maldita organização e os seus horários-à-inglesa.


Linda Martini
Já os tinha visto umas três vezes, mas desta vez surpreenderam-me.
A qualidade do baterista é inegável e, finalmente, ouvi a voz do vocalista sem ter de me esforçar muito. Grande alinhamento e boa energia.



Maxïmo Park
Outros que não conhecia e que me conquistaram. Ainda não
ouvi bem o cd, logo não posso dizer muito. Mas à
primeira audição acho que posso dizer que foi o vocalista
que me prendeu. Grande presença em palco e voz limpa
mesmo quando corria o palco de uma ponta
à outra. Além disso, chapéus de côco recomendam-se!
E aquele tom assemelha-se, ligeiramente, ao Morrissey
na época dos Smiths. Ou sou eu que estou
a imaginar coisas.


LCD SoundsystemSó gostava de ter estado um pouquinho
mais viva para ter aproveitado o concerto ao máximo.
Aquela 'Yeah Yeah Yeah' foi dos melhores
momentos do festival. Foi pena ter en
cerrado
com uma música deprimente, cujo refrão me
acompanhou o resto do festival todo
"New York I love you, but you bring me down"
adaptado a "Sacavenense I love you, but you bring me down"



The GossipAh! Uma das grandes razões de eu ter ido.
Sabia que ia ver um grande concerto e não me enganei.
Beth Ditto <3>



Scissor Sisters
(foto gentilmente roubada ao _nowadays_ que,
por sua vez, gentilmente a retirou daqui)


Além do Jack ter mostrado o rabinho, o concerto
valeu por mais que isso. Foi contagiante do
princípio ao fim. Eles são muito bons ao vivo e
aquela Tits on the Radio ainda me ressoa no ouvido.
Foi perna ter sido quase derrubada por um menino
que quase se matava pela toalha semi-transpirada do vocalista -_-



Entre parêntesis

Tv On The Radio

A Wolf Like Me ao vivo é mágica. A Province é um
hino. Mas ainda não sei se gostei, verdadeiramente, do
concerto. Eles têm um poder instrumental único e
vocalizações inesquecíveis. Mas talvez estivesse
à espera de mais... Ainda não sei.



Interpol
Em algumas bandas existe uma mística silenciosa
que assenta que nem uma luva. A questão é quando esse
silêncio se pode tornar desconfortável. Penso que pode
ter acontecido um pouco disso com os Interpol. Senti-os
distantes bastantes vezes. No entanto, três vivas
à mestria com que agarram as guitarras e constroem
músicas intemporais.



Decepções

De Klaxons só conhecia o(s) singlezito(s) e odiei o concerto. É verdade que não estava muito atenta mas eles não me disseram nada. Todos de negro, mal se mexiam, confundiam-se com o palco preto. Não puxaram pelo público e a voz do vocalista ao vivo enjoa-me. Sonzinho-wannabe-punk-de-ouvir-na-rádio.
Estava muito curiosa para ver Mundo Cão. Qualquer projecto que tenha a pena mágica do Adolfo Luxúria Canibal cativa-me. Parece-me que eles se resumem, apenas, a grandes letras. Não é que o concerto tenha sido mau... Mas eles precisam de crescer em palco.

Estádio do Sacavenense

Se o Superbock quer-se tornar uma referência dentro do seio dos
festivais de verão tem de começar a pensar,
urgentemente, num novo parque de campismo.
Um campo de futebol, por muito cómico que possa ser,
não é um local para acampar. A partir das 9h da manhã são poucos
os que se mantêm acordados com o calor que se sente dentro
da tenda. No primeiro dia fiquei com falta de ar.
Do meu grupo, quase todos fomos vítimas de escaldões
(e eu pus protector) e de más-disposições estranhas. Ao menos
umas sombrinhas artificiais, não?
E balneários onde só podem tomar banho 5 meninas
ao mesmo tempo e sem água quente é penoso. Acordar com a fábrica
do Skip à frente também não é propriamente confortável.
Mesmo quando "É bom sujar-se".
E já que estou a pedir muito:
Seguranças bêbados não dão
segurança.


(Todas as fotos daqui, menos aquela do rabinho do Jake)


1.7.07

Do mundo... o resto


"Nenhum relato de um sonho pode transmitir a sensação de sonho: o misto de absurdo, surpresa, espanto.
Aquela sensação de se estar prisioneiro do inacreditável
a
verdadeira essência dos sonhos."

Joseph Conrad, Heart of Darkness

Não foi sonho aquilo que vimos.
Na passada quinta-feira embarquei numa viagem teatral, em resquícios do FITEI. Sabia que o que nos esperava seria algo invulgar. Dois actores, três espectadores, um táxi em andamento pelas mais variadas ruas do Porto. Numa reportagem dizia-se que eram ruas escuras e algo duvidosas. Entrei no táxi num misto de apreensão e desejo. Desconhecia quem era aquele gentil senhor que me ladeava mas encontrei conforto numa outra impressão digital. Senti as minhas costas acomodadas nos estofos confortáveis daquele Mercedes-em-forma-de-taxi e esperei.
O cigarro terminou, ele entrou de expressão fechada. As imitações transparentes dos Ray-ban pareciam-lhe dar o perfil de taxista pretendido. Mas não somente. Enquanto arranjava as mangas da camisa ouvia-se:

Bem vindo ao Resto do Mundo! Este espectáculo consiste num percurso com a duração de uma hora
e decorre nas ruas da cidade do Porto. Por razões de segurança é expressamente proibido registar
qualquer tipo de imagens ou sons durante o percurso. Não abra as janelas do automóvel. Não abra as
portas do automóvel. Não abandone o automóvel a não ser numa situação de emergência. Fora do
automóvel não nos podemos responsabilizar pela sua segurança. Vamos dar início ao espectáculo.
Por favor coloque o cinto de segurança. Por favor desligue o seu telemóvel. Boa viagem!”


Outro misto de surpresa, espelhado no meu sorriso nervoso. Arrancámos. Vimos os Aliados a ficar para trás e tentei adivinhar o caminho. Sem sucesso. Até que começou. Falou-nos de um homem do mar com o dom da palavra e histórias sem fim. Um homem como poucos, talvez. Já quando esses pensamentos se cruzavam com nostalgia e a nossa ânsia de saber quem seria esse homem roçava o insuportável, eis que...

"Calma. O que é preciso é calma."

Disseram uns novos olhos azuis, que não se desviavam das nossas órbitas. Era Marlow e falou-nos de Kurz e das suas histórias errantes por noites negras e tribos violentas. Histórias fantásticas, enfeitadas de mistério que seguiam a mestria de Joseph Conrad.
Marlow partiu de uma recordação de um taxista para se fazer nosso presente.
Foi nesse presente que já se fez passado que vimos... Conhecemos um Porto escondido, um Porto apagado. Um Porto onde a luz não chega, onde o Douro não corre, onde o que escorre não é Vinho do Porto. Onde o sotaque nortenho não se ouve... Antes um silêncio que se sente à medida que te moves.

"Em O Resto do Mundo atravessamos a zona oriental do Porto, onde se cruzam autoestradas e
quintais, bairros sociais degradados e amplas alamedas arborizadas. No Azevedo, a cidade para lá da
circunvalação, zona rural que ninguém acredita que seja ainda Concelho do Porto, tropeçamos em
hortas e caminhos de terra batida. Muitas das portas das casas escondem ilhas sem as mínimas
condições de habitabilidade. Praticamente não há transportes nem emprego.
As vias rápidas da cidade

funcionam aqui literalmente como muros; não há quaisquer acessos. Nos Bairros do Lagarteiro, do
Cerco do Porto e de São João de Deus encontramos um quotidiano marcado pelo desemprego e
abandono escolar e ainda pelo consumo e tráfico de droga.
São centenas de famílias em urbanizações construídas como guetos,
por onde o resto da cidade nunca passa. Em São João de Deus os prédios semi-demolidos
desenham um cenário de guerra a 5 minutos das luzes da Avenida Fernão de
Magalhães e da novíssima centralidade do Dolce Vita e do Dragão."

Senti que aquela janela do Táxi era a única coisa que me separava deles. Dei razão a Rosseau e uma frase ecoou...

"O homem é naturalmente bom,
a sociedade é que o corrompe."

Não foi sonho o que vimos. Foi uma realidade, na qual tivemos a sorte de não nascer. Ali vivem pessoas em prédios sem luz, onde as portas e as janelas estão vedadas com tijolos. No escuro, distinguem-se sombras de pessoas, vê-se movimento, lê-se nas entrelinhas.

No fim, caminhamos e discutimos a verdadeira realidade. Viste-nos como insensíveis, eu como indiferentes. Porque, apesar de tudo, continuámos a olhar para aquele mundo com um vidro de táxi a separar-nos. Hoje penso que o mundo nos torna indiferentes, ou antes, impotentes.
O que é certo é que a morte, a pobreza, a guerra não se encontram apenas em África ou no Líbano. Estão à nossa porta...
Esta não foi apenas a melhor peça que eu vi por ter escapado de todo o lugar-comum (salvo seja) do teatro. Fez-me lembrar de uma parte de mim que eu julgava esquecida.

"Quem faz este percurso não acredita que está no Porto. Quem por aqui morta também não. Quando saem do seu bairro as pessoas dizem "vou ao Porto". Mas o Porto nunca vem a estes bairros. A cidade ignora-os. A cidade tem medo deles. Um dia o medo e a ignorância vão engolir-nos a todos"

O Resto do Mundo, uma criação Visões Úteis

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