19.5.11

argila



Ainda que isto pareça um poema
prefiro avisá-los desde o início
de que não tinha que o ser.
Não quero converter tudo em poesia.
Sei tudo sobre o seu papel neste assunto
mas isso não me interessa agora.
Isto é entre tu e eu.
Pessoalmente estou-me a marimbar para quem seduziu quem:
De facto pergunto-me se isso me interessa.
Mas um homem tem de dizer alguma coisa.
A verdade é que lhe deste 5 cervejas MacKewan,
a levaste para o teu quarto, puseste os discos adequados,
e numa hora ou duas estava feito.
Sei tudo sobre a paixão e a honra
mas infelizmente isso nada tinha a ver convosco:
Oh! Tenho a certeza que houve paixão
e mesmo um pouco de honra
mas o importante era pôr os cornos a Leonard Cohen.
Com os diabos, mais valia dizer-vos:
Não tenho tempo para escrever mais nada.
Tenho de dizer as minhas orações.
Tenho de esperar à janela.
Repito: o importante era pôr os cornos a Leonard Cohen.
Gosto desta linha porque nela está o meu nome.
O que na verdade me põe doente
é que tudo continue igual:
Ainda sou uma espécie de amigo,
ainda sou uma espécie de amante.
Mas não por muito tempo:
é por isso que digo a ambos
O caso é que me estou a converter em ouro, a converter em ouro.
É um longo processo, dizem,
acontece por fases.
Só quero informá-los que já me converti em argila.


::.Leonard Cohen
Poemas e Canções, Volume 1, Relógio D'Água,
trad. Margarida Vale de Gato e Manuel Alberto, 1999
(via Trama)

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