7.4.07

[Faixa III] A Naifa . Todo o amor do mundo não foi suficiente



todo o amor do mundo não foi suficiente porque o amor não serve
[de nada. ficaram só
os papéis e a tristeza, ficou só a amargura e a cinza dos cigarros e
[da morte.
os domingos e as noites que passámos a fazer planos não foram
[suficientes e foram
demasiados porque hoje são como sangue no teu rosto, são como
[lágrimas.
sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em
[cada instante, em cada hora,
não irei negar isso. não irei negar nunca que te amei. nem mesmo
[quando estiver deitado,
nu, sobre os lençóis de outra e ela me obrigar a dizer que a amo
[antes de a foder.

José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas


Saí do café com aquelas palavras na cabeça. 'todo o amor do mundo não foi suficiente.' Discordava e discordo. Para mim, todo o amor do mundo será suficiente para praticamente tudo. Mas aquelas palavras naquele livro envolviam-me, transportavam-me. Encaminhavam-me para casas desertas com chão velho e cheiro a mofo.
Entro no carro e ouço aquelas mesmas palavras cantadas. A Naifa fez-me parar o carro para pegar no livro que descansava no banco de trás.
E é isto que se ouve nesta música. Um poema de José Luís Peixoto, brilhantemente interpretado por uma das melhores bandas portuguesas dos últimos anos, na minha opinião. Noutro dia, enquanto esperava pelas notícias na TSF, ouvi um senhor bem ilustre de cujo nome já não me recordo (seria o maestro José Mário Branco?) que dizia que o fado era belo pela sua simplicidade e que não havia motivo para alterar a sua essência com outros tipos de sonoridades. Discordava e discordo. O fado é fado sempre. Mesmo com todo o tipo de arranjos, sentimos fado na voz, na guitarra, no ambiente. Aliás, esses arranjos até podem trazer público, modernizar, fazer a música evoluir. Daí que goste tanto d'A Naifa. Além da belíssima voz da menina Maria Antónia Mercedes, contam com o génio de Luís Varatojo e João Aguardela no baixo e na guitarra portuguesa, respectivamente, com letras incríveis e uma pós-produção fabulosa. Não diria que são o 'novo fado' porque isso não existe. Mas que são portugueses, ai isso são. E sabem o que fazem. Exemplarmente.

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu nao consigo evitar que a minha musica favorita d'A Naifa seja a Senhoritas:) gosto muito. e concordo contigo em quase tudo excepto que eu acho que "todo o amor do mundo" as vezes nao é, efectivamente, "suficiente".

Anônimo disse...

todo o amor do mundo é suficiente, até deixar de o ser. mas "tentar é lindo", diz a becas.

beijinhos,
amanta.

Anônimo disse...

todo o amor do mundo nunca é suficiente. se o fosse não existiria a constante procura.
Gosto do ambiente musical ao qual sou transportada na Fé.

Tentar é Lindo. ao tempo...

plim

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